Sim, perante a violência política e militar expressa do regime, a falta de vontade e a sua incapacidade de tentar resolver o caso de Cabinda, nós, os cabindas, temos apenas um dever, o de não ceder à nossa obrigação moral de nos defendermos. Defender o nosso território contra a ocupação angolana do MPLA.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Este dever para nós não é de calar as nossas bocas, nem de largar as nossas canetas e nem deixar de lutar por todos os meios pacíficos como militares como fazem os nossos irmãos ucranianos, e como disse tão bem o filósofo Kant, basta ao homem usar a sua razão para saber o que ele deve fazer.
Talvez não saibamos o que devemos fazer neste momento em que acreditamos que tudo está perdido para nós e para o nosso povo, se encontra em nós mesmos, não precisamos nos referir a uma instância externa a nós no plano moral, nem receber regras de ninguém de fora de nós mesmos.
Temos uma história, uma identidade, um território e uma cultura que nos são próprios, o que em larga medida é suficiente e motivador para nos impor o dever de nos libertarmos do colonialismo dos angolanos, encarnado pelo incompetente presidente João Lourenço, um homem privado de qualquer sentido humano no sentido literal do termo.
Sete meses depois de ter orquestrado a fraude eleitoral para se manter no poder, a única lição que este regime tirou da derrota popular nunca vivida pelo MPLA é a manutenção da violência e da repressão contra os activistas cívicos e políticos.
O regime não tem demonstrado sinal de flexibilidade na sua política de governo, capaz de trazer o apaziguamento de que o país inteiro necessita para enfrentar os importantes desafios que o mundo nos impõe, como a transição energética, o aquecimento global, o desenvolvimento e a diversificação da economia em geral, bem como a atribuição de um estatuto político autónomo a Cabinda, em particular.
O governo não mudou depois da fraude eleitoral, as várias mudanças que temos observado no topo do estado e na estrutura dos serviços secretos e militares não auguram qualquer progresso na estratégia de governação do país, serve apenas para reforçar seu poder autoritário e enfraquecer e manipular conforme sua vontade, os demais poderes e órgãos constitucionais como a justiça, a polícia, o exército, o serviço público e a imprensa.
No plano diplomático, a nomeação de Guilhermina Prata como Embaixadora em França, não é apenas uma recompensa para a pessoa por ter avalizado a fraude ao nível do Tribunal Constitucional, mas demonstra para o presidente um desconhecimento do peso que a França representa no balanço da influência da política mundial, especialmente dentro da União Europeia, sem falar no problema ético vinculado à mesma nomeação.
A Embaixada de Angola em França deverá ser um local de excelência na política externa do país, e ser comandada por um diplomata experiente que domine dossiês sensíveis em matéria de relações internacionais, um espelho capaz de apresentar uma outra imagem do país, vitrina de uma diplomacia dedicada à atracção de investidores que o pais precisa, e não um lugar de descanso para amigos politicamente incorrectos, que se tornaram marionetes do regime, apesar de suas habilidades.
As mexidas observadas à frente das forças de defesa e segurança dão-nos mais perguntas do que respostas sobre as mudanças de que o país necessita ao nível da protecção dos cidadãos, das liberdades fundamentais de manifestações e associações, e do exercício do jornalismo.
Os primeiros passos do comandante-geral da Polícia de Luanda, provou-nos recentemente que optou pela repressão violenta para garantir a sua lealdade ao incompetente Presidente e ao regime, ao eliminar qualquer espaço para o exercício da cidadania, que é característico de regimes autoritários no sentido mais estrito do termo.
Relativamente às mudanças à frente do SIE, que teve como uma das grandes responsabilidades a gestão do dossiê Cabinda e fragilização da FLEC-FAC, o fracasso que o regime atribui a “Zé Grande” é que não conseguiu corromper o Presidente da FLEC-FAC, Emmanuel Nzita , trazendo-o de volta para Luanda.
Gostaria de dizer aos meus compatriotas Cabindas que a substituição de “Zé Grande”, que deixa ao general Miala uma margem de manobra e grande liberdade na gestão dos dossiês de Cabinda e das crises na região dos grandes lagos, não augura nada de bom pelo futuro de Cabinda.
Para o regime, a solução para o conflito cabindense continuará a ser a da rigidez, da submissão, do assassinato dos irredutíveis e resistentes em vez do diálogo, nem da atribuição de um estatuto de autonomia ao território.
Com o general Miala, as iniciativas tendentes a nos dividir voltarão a surgir e com força, dentro dos círculos dos independentistas e os menos experientes entre nós serão seus apoiantes nas difamações e falsas notícias, o que significa que não daremos um passo adiante na luta pela conquista da nossa dignidade e pela defesa das nossas legítimas aspirações.
Há um filósofo que dizia que a liberdade total nunca é desejável, porque ser livre nunca é fazer o que se quer, sob pena de colidir com a liberdade dos outros, que então seria negada ou violada, e se tivermos de violar a liberdade do MPLA e do seu regime sanguinário para ter a nossa própria liberdade, não temos escolha senão imitar os ucranianos que neste momento estão a pagar um preço alto pela sua liberdade
Deus abençoe Cabinda
(*) Activista e refugiado político na França
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